terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Causa


Causa


Você é o meu silêncio
Meu dia
E minha noite
Minha paz e minha guerra
Minha indiferença
Minha angústia
Meu desespero
Minha gargalhada de sábado á tarde
Minha implicância de irmão mais velho
Você é a causa
E a minha cura
Mas não é meu porto seguro, luz no fim do túnel, metáfora eterna.

Bruta flor do querer


BRUTA FLOR DO QUERER

Eu quero que você beije minha boca
Até me anular o fôlego
Eu quero que você me toque
eu quero que você me aperte
Eu quero teus olhos-querer
Eu quero que você beije meus úberes
com essa boca-desejo
Eu quero q você me abrace até eu repousar frouxa, murcha, farta,
Morta de cansaço
Eu quero ouvir você
Eu quero sentir você
Eu quero devaneios
Quero-te até perder o recado
E querendo-te
Vejo razão transformar-se em sentimento.

SOBRE INCALCULABILIDADES E SURPRESAS



Sobre incalculabilidades e surpresas

Era seguro. Sabia aproveitar a vida. Teve tempo para escolher o futuro. Tinha agora um bom emprego, a oportunidade de conhecer cidades diferentes em seu país, mas não sabia o que era a saudade. A namorada, que o amava tanto, fonte de sua segurança, estava sempre a sua espera. Portanto, não precisava da saudade. O que amava era a liberdade. Ah... como amava a liberdade! Não entendia de barcos, mas sentia-se como um marinheiro: tinha a quem enviar cartas e um amor em cada porto. Conhecia muitas cidades em seu país. E sabia-se feliz assim. Só que se esqueceu do destino. Este, irmão mais novo do acaso, que vive pregando peças. E ele era seguro. Seguro de si, seguro das escolhas que fez e seguro, muito seguro de que não era desses, feitos para amar. Mas esqueceu-se, verdadeiramente, do destino. Que, por acaso, o pôs muitas vezes a voltar á cidade aonde chegou menino, recém-jogado á vida e saiu homem administrador de seu fado. E, por acaso, ali entrou em sintonia com uma bela. Acreditava, sem pretensões, ser mais um amor de porto. Travessuras do destino á parte, a cada vez que voltava á sua segunda cidade (a primeira era onde morava; a segunda, onde amava), feito onda de rádio, sintonizava- se à sua bela. Já a chamava de sua, já a apresentara aos velhos amigos do lugar onde amava, estava seguro. Não era desses, feitos para o sentimento. E sabia-se feliz assim. Principalmente por que previa que se os olhos não veem o coração não sente. Ainda tinha quem recebesse as suas cartas. Dizia a quem o caçoasse: “não duro mais um ano, ainda me verá casado com ela!" E como amava a liberdade! No entanto, não contava com o tempo. Este, que intensifica os sentimentos ou os dispersa, conforme a sua vontade.  Verdadeiramente, não contava.  Tanto que o tempo resolveu testar sua força. Não era seguro? Fê-lo apaixonar-se por sua bela. E ele, seguro, entregou-se ás delícias da paixão qual um adolescente. Não era desses.  Tinha o controle de seu fado. Era bom, sentir-se vivo. Sabia aproveitar a vida. E como era amado!
Ainda que tivesse se esquecido do destino, esse resolveu lembrá-lo de que, quanto mais alto o degrau, maior a queda. Achou que era muito amado, o invejoso destino. Resolveu tirar- lhe um pouco de amor, entregar a quem estivesse mais desprovido. Sabia que ele conhecia muitas cidades. Então, tirou de onde ele tinha mais amor, de onde mais lhe sobrava. Agiu. Quando sua bela ignorou- o, ele, controlador de sua sorte, sem sentimentalidades, amante da liberdade, enxergou-se com os olhos marejados. Sentiu seu coração partir. Ele, que tinha tanto medo do amor, tanto medo de sofrer por amor, que esquivou do amor o quanto pôde, viu-se apaixonado e com o coração partido. Não tem quem partilhe sua dor. Não pode perder a receptora de suas cartas. Já disse que irá se casar com ela. Não pode perdê-la. Acha que a ama. E, calado, implora para que o tempo decida o fazer esquecer de sua bela surpresa. Sabia: era bom, sentir-se vivo.


Sombra


sombra

não gosto das árvores á noite.
nesta penumbra
sem luar
se arredondam
se retorcem, se triangulam
se distorcem
a cada estrela que passa
aos lentos passos meus
são tartarugas
leões
pássaros á leve brisa
ou o seu rosto?




sou míope.

Sou assim que eu sou


sou assim que eu sou


me arrisquei e me chamaram de louca.
me expus e me chamaram de irresponsável.
ri alto e me tiraram a credibilidade.
 dancei na rua e me chamaram a polícia.
pulei e retiraram o chão.
cantei e me taparam a boca.
sou assim que eu sou o que se vê
pulo sem chão pra aparar
rio sem teatro pra acompanhar
danço sem música pra justificar
sinto sem medo de ridicularizar
abraço o perigo sem saber onde vou chegar
eu amo
grito o teu nome
que venha a polícia, Deus e
o diabo pra duvidar.

Cegueira


cegueira


para ficar contigo
não vi seus defeitos
não vi sua inconsistência
ignorei teu jeito inconsequente
turrão
vejo só (todas) as vezes
em que você me tira um sorriso.

Sugestão

Sugestão



ah se eu soubesse dançar
sem ninguém perceber
 ah se eu pudesse gritar
quando encontrar você
ah se eu pudesse saber
quando você vai voltar
ah se eu pudesse entender
como consegui te amar
ah se eu pudesse dizer
tudo que o  destino calou
 ah se eu pudesse fazer
o que o tempo não deixou
 ah se eu pudesse
 mas eu não posso.